Formação

 

Aprenda um pouco sobre a Bíblia, Palavra de Deus.

Conhecendo a Bíblia

1. Que é a Bíblia?

A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais lido e mais conhecido em todo o mundo. Mas ela não é exatamente só um livro: é uma coleção, uma verdadeira biblioteca. Ter uma Bíblia é possuir uma palpitante série de 73 livros que abordam os mais variados temas: históricos, religiosos, aventurescos, sociais e psicológicos. Suas páginas contêm riquíssimos personagens e os mais variados tipos literários, que levam o leitor a viver os episódios bíblicos como se estivesse dentro de seus cenários. E a visão geográfica ― física e social ― que se tem é bastante abrangente e panorâmica, pois locais e povos da Antiguidade, com suas paisagens, usos e costumes, estão compreendidos nos livros bíblicos. A Bíblia é também o livro mais divulgado em todo o mundo, com mais de três bilhões de cópias espalhadas pelos cinco continentes.

2. De que trata a Bíblia?

A Bíblia trata de muitos e variados assuntos. Contém histórias verídicas e fictícias, canções e poesias, leis e regras, sábios conselhos, profecias com várias previsões e cartas. Os textos da Bíblia abrangem uma larga faixa da história da humanidade: em suas páginas desfilam os mais variados povos, com sua vivência típica, suas lutas, guerras, crenças, evoluções, com tudo enfim que compõe a vida humana em sua mais rica expressão. Mas a Bíblia é um livro muito especial porque fala de Deus, de sua palavra. Conta-nos quem é Deus, o que fez, faz e fará, suas promessas e advertências, desde a criação do mundo até seus planos para o futuro do homem. Ler a Bíblia é “conversar” com Deus.

3. Como se classificam os livros da Bíblia?

A Bíblia (que quer dizer “os livros”) divide-se em duas partes: o Antigo Testamento e o Novo Testamento (“testamento” significa “aliança”). O primeiro abrange 46 livros; o segundo, 27. O Antigo Testamento fala da história dos hebreus, o povo escolhido por Deus. Conta também como o Senhor criou o mundo. Em resumo, o Antigo Testamento contém livros de leis, regras, poesias, canções, sabedoria e profecias. O Novo Testamento apresenta a história da vida de Jesus e da formação da Igreja cristã, inúmeras cartas e um livro profético. Poderíamos assim, de modo bem simples, classificar os livros da Bíblia em: Antigo Testamento: 5 livros de leis e regras, 16 livros históricos, 7 livros poéticos e 18 proféticos; Novo Testamento: 4 livros sobre a vida de Jesus, 1 livro histórico, 21 cartas e 1 livro profético.

4. O que são os “livros apócrifos”?

A palavra “apócrifo” vem do grego e quer dizer “oculto, escondido”. A referência a “livros apócrifos” da Bíblia significa que certos livros, do Antigo e do Novo Testamento, não tiveram sua autenticidade estabelecida como verdadeira e por isso não fazem parte da Bíblia. Diz-se também que são livros não-canônicos, isto é, que não fazem parte do cânon (catálogo) da Igreja. Esta diversidade de livros ocorreu no Antigo Testamento porque muitas versões de uma mesma história foram contadas por pessoas distintas, o que provocou as diferenças. Com relação ao Novo Testamento, embora circulassem muitas histórias sobre Jesus, a Igreja aceitou apenas as que lemos hoje em dia. Foi no século I que se encerrou, na Palestina, a lista dos livros para o Antigo Testamento e no ano 397, no Concílio de Cartago, para o Novo Testamento.

5. Quem escreveu a Bíblia?

Inúmeros foram os autores da Bíblia. Conhecemos muitos deles. Como alguns livros do Antigo Testamento são muito antigos, não sabemos ao certo quem os escreveu. Já no Novo Testamento podemos encontrar nos próprios livros o nome de seus autores, com exceção da Carta aos Hebreus, que não é “assinada” mas que, pelo seu estilo, se presume tenha também sido escrita por Paulo. Em essência, o que diferencia os autores da Bíblia dos autores dos outros livros é que aqueles foram “inspirados” por Deus. Isto não quer dizer que Deus “ditou-lhes” os textos, mas que os levou espiritualmente a escreverem seus relatos e suas mensagens. Podemos assim ler episódios em que Deus é o personagem principal, atuando em situações reais. Por isso mesmo, a Bíblia é dirigida a todas as pessoas, de todos os lugares e de todos os tempos.

6. Quem escreveu o maior número de livros da Bíblia?

Dos 73 livros que compõem a Bíblia, 13 foram escritos por um mesmo autor: Paulo. O autor das cartas viveu no século I. Ao que tudo indica, não conheceu Jesus pessoalmente, mas foi o grande apóstolo missionário da doutrina cristã, o maior divulgador, por todo o mundo então conhecido, da nova religião que surgia, o cristianismo. Fez inúmeras viagens, reunindo os adeptos que conquistava nas Igrejas (palavra que significa “assembléia”). Paulo era natural da cidade de Tarso, na Cilícia, hoje parte da Turquia. Era judeu de religião e romano de cidadania. Homem culto, falava o hebraico, o aramaico e o grego. No início de sua vida, foi um ferrenho perseguidor dos primeiros cristãos, tendo-se convertido durante uma viagem que fez a Damasco, quando ouviu a voz do próprio Jesus.

7. Em que língua a Bíblia foi escrita?

Três são as línguas em que a Bíblia foi redigida, pois, tendo os textos sido escritos durante milhares de anos, as línguas foram se diversificando. A maior parte dos livros do Antigo Testamento foi escrita em hebraico, uma língua mais culta, que se lê da direita para a esquerda. Alguns livros, ou parte deles, foram escritos em aramaico (esta era a língua falada por Jesus), uma língua mais comercial e diplomática. O Novo Testamento foi escrito em grego, a língua dos filósofos, literatos e teatrólogos clássicos, naquela época considerada “universal”. Era falada em toda a parte oriental do império romano, embora não fosse sua língua oficial, que era o latim.

8. Quando se começou a traduzir a Bíblia?

Houve muitas traduções primitivas do Antigo Testamento. Uma das mais importantes foi sem dúvida a realizada no século III a.C., do hebraico para o grego, e que se chamou Septuaginta (Setenta). Mais tarde, São Jerônimo fez a tradução para o latim (Vulgata); Jerônimo, então secretário do papa Dâmaso, levou 21 anos para concluir a tradução. Antes desta versão, o Antigo Testamento já havia sido traduzido para o siríaco, língua do povo que vivia numa região da atual Turquia (ano 100) e para o copto, língua dos primeiros cristãos egípcios. No século IV foi traduzido para o germânico e no século V, para o armênio e o geórgico. No século IX, o Antigo Testamento foi traduzido para o eslavo antigo, pelos irmãos Cirilo e Metódio. O Novo Testamento foi traduzido logo depois de ter sido escrito, provavelmente primeiro em latim, língua oficial do império romano.

9. Em quantas línguas a Bíblia já foi traduzida?

Já há traduções da Bíblia em mais de quinhentas línguas, mas os tradutores continuam seus trabalhos ativamente, pois há muitos povos que ainda não tem traduções em suas línguas e dialetos. No século XV, com a criação da imprensa, a divulgação da Bíblia tornou-se muito mais simples, pois a impressão do texto em papel leva muito menos tempo para ser feita do que as cópias manuscritas que circulavam até então. Surgiram assim, a partir daí, traduções na Ásia, na África e na Europa (alemão, francês, inglês, espanhol, português, sueco, holandês, italiano e outras línguas). Com o trabalho missionário do século XIX, outros povos puderam ler a Bíblia nas línguas de seus próprios países, como China, Índia, ilhas da Polinésia, diversas nações africanas e até na língua dos indígenas andinos da América do Sul (Peru e Bolívia).

10. A Bíblia sempre teve o aspecto de um livro?

Não. No começo, as histórias bíblicas eram transmitidas apenas oralmente, em geral no seio das próprias famílias hebréias. Depois, foi se tornando necessário que se escrevessem os textos, para serem melhor conservados pelos descendentes, então mais numerosos. Como naquela época ainda não havia sido inventado o papel, os relatos foram escritos primeiro sobre papiro, um tipo de “papel” feito com as hastes dessa planta, abundante no Egito (o mais antigo texto do Novo Testamento que conhecemos foi escrito sobre papiro). Utilizaram-se também tabuletas de cerâmica ou argila e depois pergaminhos (peles de carneiro ou cabra), sobre os quais os escribas copiavam os textos em colunas, uma após outra, de modo que o pergaminho pudesse ir sendo enrolado, à medida que fosse lido. Foi um desses rolos que Jesus leu na sinagoga de Nazaré.

11. Que são rolos do mar Morto?

São documentos antigos, do tempo do Novo Testamento, que se conservaram por séculos na Palestina. Um pastor encontrou-os casualmente em 1947, em Qûmran, numa caverna entre montes bem próximos do mar Morto. Escritos em hebraico e aramaico, os rolos pertenciam a uma comunidade religiosa que vivia nas imediações, mais ou menos no tempo de Jesus. Continham cópias de todos os livros do Antigo Testamento, com exceção do Livro de Ester. As cópias provam que o texto hebreu tradicional, único de que se dispunha antes dessa descoberta, era corrente no século I. E mostram também que essa seita era bastante rigorosa em matéria de religião, talvez mais do que os chefes judeus que Jesus tanto atacou por sua exagerada obediência a certos pormenores da lei. Atualmente, os rolos estão em Jerusalém, no Santuário do Livro.

12. Quando surgiu a primeira Bíblia impressa?

Foi por volta de 1450, na cidade de Mainz, Alemanha. Ali Johann Gutenberg começou a fazer experiências para construir uma máquina impressora. Usando tipos móveis metálicos, ele iniciou uma nova era na história do livro e também da Bíblia, pois foi este o primeiro livro impresso segundo o novo sistema, em 1456, todo em latim. Dez anos depois, saiu a primeira Bíblia em alemão, seguida de outras edições em italiano, francês, holandês e catalão. As páginas da Bíblia de Gutenberg eram impressas em duas colunas, todas ilustradas por iluminuras. Dessa primeira edição restam até hoje alguns livros. Um deles foi vendido num leilão, em 1978, por um preço fabuloso.

13. Como se deve ler a Bíblia?

Antes de ler a Bíblia, é preciso ter em mente a época em que foi escrita, o panorama social em que viveram seus autores e personagens e o lugar em que a ação se desenvolve. Ora, a Bíblia é uma “biblioteca” muito antiga, que contém personagens bastante variados, agindo em diferentes lugares e que, acima de tudo, reúne diversos gêneros literários em seus vários livros. Assim, ler um texto histórico não é como ler uma poesia ou uma carta. Por exemplo, ler a história de Moisés não é o mesmo que ler uma carta de Paulo, ou um trecho do Cântico dos Cânticos. Por isso, devemos interpretar o texto bíblico que se lê de acordo com seu significado no passado e atualmente. Para compreender bem a Bíblia, não é preciso lê-la de uma só vez. Como se compõe de vários livros, pode-se escolher primeiro um cuja história seja mais atraente para o leitor.

14. Por que a Bíblia sempre fez e faz ainda tanto sucesso?

Não se escreveu até hoje, de fato, outro livro que tivesse tanto sucesso e cujas vendas alcançassem os números atingidos pela Bíblia. Só para dar um exemplo, em 1980 foram vendidos 10 milhões de Bíblias em 275 diferentes idiomas. Com base em dados estatísticos impressionantes, podemos realmente dizer que a Bíblia é o “Livro dos livros”. Através de sua história de dois mil anos, tem se prestado a guiar povos, confortar pessoas e inspirar comportamentos morais e sociais em todo este nosso planeta. E, até hoje, seu grande sucesso quer dizer simplesmente que ainda tem algo importante a dizer à nossa atualidade, embora seus textos sejam tão antigos. A Bíblia realmente tem sempre uma “mensagem nova”, algo capaz de mudar vidas, de dar esperança e de fazer vislumbrar um futuro melhor para todo ser humano.

Localização geográfica

15. Em que lugares ocorreram os episódios bíblicos?

Em sua maior parte, os cenários bíblicos localizam-se no Oriente Médio, numa estreita faixa de terra entre o mar Mediterrâneo e os grandes desertos arábicos. É a terra de Canaã (este nome se liga ao povo que ali habitava originalmente, os cananeus), ou Israel, ou ainda Palestina, nome que lhe foi dado mais tarde. Mas a história do povo escolhido, os hebreus, começa na Mesopotâmia, na cidade de Harã, onde habitava Abraão, o grande patriarca. Os israelitas também estiveram muitos anos exilados na Assíria e Caldéia (Babilônia), depois da conquista do reino de Israel, ao norte, em 722, pelos assírios, e da conquista do reino de Judá, ao sul, em 587, pelos babilônios. Canaã tinha uma faixa de planície costeira, junto ao mar, uma cadeia de montanhas ao centro e um vale profundo, abaixo do nível do mar, o vale do rio Jordão.

16. Os lugares que aparecem na Bíblia são os mesmos de hoje?

É claro que mares e montanhas mudam muito pouco através dos séculos, mas o lugar exato de certas cidades pode não corresponder à situação nos tempos bíblicos. As escavações arqueológicas que se fazem continuamente demonstram que há ruínas “superpostas”, isto é, cidades que foram erguidas sobre outras que haviam sido destruídas, ou que sofreram erosão do tempo. Podemos citar como exemplo a cidade de Jerusalém, totalmente destruída no ano 70 pelos romanos. Sua posição é a mesma, mas como saber se a Via Crúcis, o caminho percorrido por Jesus do palácio do governador romano Pôncio Pilatos até o Calvário, é exatamente o mesmo que hoje se mostra aos visitantes? Sem dúvida, uma localização mais precisa é impossível, mas isto não é importante quando se trata de um panorama histórico.

17. Onde era a “Terra Prometida”?

A Terra Prometida era Canaã, uma estreita faixa de terra localizada às margens do mar Mediterrâneo, no Oriente Próximo, onde hoje se situa Israel. Essa expressão decorre da promessa feita por Deus a Abraão ― a Antiga Aliança ―, de dar ao povo hebreu uma terra fecunda e bonita, onde “corriam o leite e o mel”, e onde, desse patriarca, surgiria uma grande nação abençoada por Deus. A Bíblia diz que suas medidas seriam de aproximadamente 230 quilômetros de norte a sul e 80 quilômetros de leste a oeste. A Terra Prometida teve vários nomes ao longo de sua história, além de Canaã. Depois da entrada dos hebreus, passou a chamar-se Israel; após a divisão do reino de Davi, recebeu os nomes de Israel e Judá; e depois do exílio em Babilônia, Galiléia (norte), Samaraia (centro) e Judéia (sul). Há ainda o nome de Palestina, dado mais tarde por gregos e romanos.

18. Onde viveu Jesus?

Jesus nasceu em Belém, na Judéia, a cidade da qual se dizia que um dia seria o berço do Messias esperado desde os tempos do Antigo Testamento. Seus pais (que moravam em Nazaré) haviam ido para essa cidade em razão de um recenseamento ordenado pelos romanos, que queriam saber quantos habitantes havia em seu vasto império. Logo depois do seu nascimento, como o rei Herodes determinara que fossem mortos todos os meninos menores de 2 anos (ele ouvira os magos dizerem que um rei havia nascido em seu reino), Jesus foi levado por seus pais, Maria e José, ao Egito, onde ficaram até a morte de Herodes. A família voltou então para Nazaré. Jesus viveu ali mais ou menos até os 30 anos de idade. Passou então a percorrer toda a Palestina, especialmente a Galiléia, sempre pregando sua doutrina. Jesus morreu em Jerusalém, na Judéia.

19. Os lugares mencionados por Paulo em suas cartas, pelos quais ele passou em suas viagens missionárias, existem até hoje?

Sim. Alguns mudaram de nome, mas são os mesmos pontos geográficos. Paulo fez três viagens missionárias para divulgar a doutrina de Jesus e conquistar novos adeptos para o cristianismo; e uma quarta viagem a Roma, como prisioneiro. Na primeira, entre os anos 45 e 49, com Barnabé, foi a Chipre, Pisídia e Panfília, retornando a Antioquia. Na segunda, realizada de 50 a 52, Paulo fez um longo percurso, por terra e por mar, juntamente com Silas: saiu de Jerusalém, atravessou a Fenícia, Síria, Silícia, Licaônia e Galácia, indo para Macedônia e Grécia. Daí voltou a Cesaréia. Na terceira viagem, dirigiu-se a Éfeso, onde residiu por pouco mais de dois anos (54 a 56). Daí foi para a Grécia e Macedônia, voltando então à Palestina. Na última viagem, em 57, Paulo foi para Roma, onde morreu no ano 67. Passou por Rodes, Creta, Malta, Sicília e Nápoli.

O clima, as plantas e os animais

20. Como era o clima da Palestina nos tempos bíblicos?

Em geral, o clima dos países mediterrâneos oscila entre o temperado e o tropical. A Palestina tem porém algumas distintas particularidades climáticas. O inverno é úmido e nas montanhas pode nevar; o verão é quente e seco, mas nas planícies costeiras o clima tropical é sempre ameno. Os ventos quentes que sopram do deserto podem ocasionar secas dramáticas, enquanto que os ventos frios que vêm do oeste podem trazer chuvas intensas. Nas montanhas chega a chover 150mm e no vale do Jordão apenas 10mm anualmente. As temperaturas também variam muito: junto ao mar Morto, no verão, podem chegar a 40 graus centígrados e nas montanhas da Galiléia, no inverno, podem ser inferiores a zero grau. A vegetação, em conseqüência, é bem diversificada: bosques, pradarias, desertos, dunas e oásis.

21. Como era a vida no deserto?

Poderíamos dizer que o pano de fundo de muitas das histórias bíblicas é o deserto. Na verdade, as regiões áridas predominam em todo o Oriente Médio. As poucas “ilhas” de solo fértil – como a Mesopotâmia, no vale dos rios Tigre e Eufrates, as planícies costeiras do Mediterrâneo e as margens do rio Nilo, no Egito – poderiam ser considerados como autênticos “oásis” em meio aos vastos desertos de areia ou pedras. A vida no deserto era muito dura. Os israelitas, em sua longa caminhada para a Terra Prometida, vagaram 40 anos pelo deserto, sempre sentindo a ameaça da fome e da sede. Deus enviou-lhes, para alimentarem-se, o maná e as codornizes. Ao chegar a Canaã, a terra pareceu-lhes um milagre da natureza, um jardim paradisíaco. Também João Batista viveu no deserto, alimentando-se de gafanhotos, e Jesus lá passou 40 dias.

22. Como eram as plantas?

A Bíblia fala de árvores frutíferas e não-frutíferas. Fala também de cereais, flores, plantas aromáticas e medicinais. Entre as árvores frutíferas mais citadas estão a oliveira (Jesus vai para o Jardim das Oliveiras diversas vezes, nas imediações de Jerusalém), a figueira (que aparece por exemplo no Segundo Livro dos Reis e nos Evangelhos), a videira (frequentemente citada no Antigo e no Novo Testamento) e a palmeira (tamareira). Os cereais que mais aparecem na Bíblia são o trigo e a cevada, produtos agrícolas essenciais na alimentação dos povos antigos. Entre as flores típicas dos textos bíblicos estão o lírio, o narciso, a rosa e o cardo (planta cheia de espinhos, com a qual fizeram a coroa para Jesus). Como plantas aromáticas e medicinais podemos citar: o nardo, o cinamomo, a mostarda, o incenso, a mirra, o cominho e o anis.

23. Quais os animais mais citados na Bíblia?

Muitos são os bichos citados na Bíblia, mas os que aparecem mais frequentemente são os animais dos campos, como as ovelhas, cabras e bois. Outro animal mencionado várias vezes, principalmente no Novo Testamento, é o jumento. Basta lembrar que Jesus entrou em Jerusalém, para participar da festa da Páscoa, montado num jumentinho (domingo de ramos), poucos dias antes de morrer. O jumento era muito útil no transporte de pessoas e de carga. Outros animais de carga eram o camelo e o dromedário, que podem viver muitos dias no deserto com pouca alimentação e sem beber muita água; e também o cavalo, que só foi criado em Israel depois do reinado de Davi, que o importou da Cilícia, região da atual Turquia. No Antigo Testamento fala-se também em gafanhotos, rãs, mosquitos e moscas.

24. De quais animais selvagens a Bíblia fala mais? E de quais aves?

Nos bosques e campos dos países da Bíblia viviam muitos animais selvagens, alguns pequenos, inofensivos, como a lebre e a gazela; outros grandes, perigosos, como o leão, o lobo, o leopardo, a raposa, o urso e a serpente. Exemplos de textos bíblicos bem conhecidos em que esses animais aparecem são: a serpente, na história de Adão e Eva; as raposas, na história de Sansão (dizem alguns estudiosos que provavelmente não seriam raposas, mas chacais, pois estes caçam em bando, enquanto as raposas saem sós); os leões, na história de Daniel; os lobos, citados por Jesus ao referir-se a seus discípulos, enviados como “ovelhas no meio de lobos”. As aves pequenas que mais se mencionam na Bíblia são os pardais, as pombas, as andorinhas; entre as grandes estão a águia, os corvos, as corujas e os abutres.

25. Que papel desempenhavam os animais na sociedade dos povos bíblicos?

Os animais eram muito importantes entre esses povos. Em primeiro lugar, constituíam um índice de riqueza: o homem que possuía muitos animais era respeitado. A Bíblia diz que Jó era muito rico porque tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, mil cabeças de gado e 500 jumentos. Além disso, os animais eram o único meio de transporte na época: eram montados ou puxavam carros e carroças. Dos animais provinham também importantes alimentos: carne, leite, manteiga, queijo, creme de leite e mel. E de suas peles e sua lã faziam-se vestimentas, tendas, velas para barcos e alguns utensílios domésticos. E, antes de serem cunhadas as moedas, os animais eram usados como elemento de trocas comerciais. Além de tudo isso, certos animais eram muito utilizados nos sacrifícios oferecidos a Deus.

26. Por que se faziam sacrifícios a Deus?

Os povos que aparecem no Antigo Testamento frequentemente ofereciam sacrifícios de animais ao Senhor. Em certas datas especiais, em agradecimentos a Deus por algo recebido, ou quando desejavam pedir perdão por qualquer erro cometido, matavam animais, depositando-os como oferendas (às vezes os animais eram também queimados). Os animais mais sacrificados eram as ovelhas, carneiros e cabras. As pessoas pobres ofereciam pombas ou rolinhas. Vários são os exemplos de sacrifícios oferecidos ao Senhor no Antigo Testamento: ao sair da arca, depois do dilúvio, Noé ofereceu vários animais em holocausto; Abraão ia sacrificar seu filho, Isaac, quando Deus, comprovando sua fé, fez com que aparecesse um cordeiro para o sacrifício; Davi ergueu um altar e ofereceu sacrifícios ao Senhor, pedindo-lhe para que cessasse a peste em Israel.

27. Por que o carneiro era tão importante?

Além de sua importância econômica, pois forneciam carne e também lã, com a qual se faziam vestes e mantas, os carneiros eram os animais mais sacrificados em holocausto a Deus. Mas há na Bíblia uma alegoria especial aos carneiros e ovelhas: eram comparados ao próprio povo hebreu, ovelhas cujo pastor era o Senhor, que as guiava e delas cuidava com carinho e dedicação. No Novo Testamento, Jesus refere-se a si mesmo como “o bom pastor”, que conhece suas ovelhas e seu rebanho (seus seguidores). Após sua morte, Jesus é chamado de “Cordeiro de Deus”: como os cordeiros imolados, ele foi sacrificado, morrendo na cruz pela remissão da humanidade. Os cristãos, portanto, já não tinham razão para sacrificar animais em holocaustos. E Samuel já dissera que agrada mais ao Senhor o bom procedimento dos homens do que qualquer sacrifício.

28. O que era o “bode expiatório”?

É muito comum ouvir-se essa expressão em referência a alguém que está assumindo a culpa por um erro que não cometeu, um erro dos outros. Mas o que nem todos sabem é que o “bode expiatório” é parte de um dos sacrifícios oferecidos pelo povo hebreu. Numa de suas mais importantes celebrações anuais religiosas, o Dia do Perdão, o sumo sacerdote fazia um sacrifício especial para que fossem expiados os pecados de toda a nação de Israel durante aquele ano. Dois bodes eram trazidos sobre o altar principal do templo: um era escolhido para o Senhor e morto; o outro, o “bode expiatório”, era levado vivo para o deserto, como símbolo de expiação dos pecados, impelidos para longe da presença de Deus. Em um dos livros das leis do Antigo Testamento, o Levítico, vem especificado todo o procedimento relativo ao “bode expiatório”.

O povo de Deus

29. A quem Deus jurou dar a “Terra Prometida”?

A Abraão. O ponto de partida de toda a religião judaica foi o dia em que Deus falou a ele, pedindo que deixasse sua pátria e se dirigisse a um novo país, Canaã, a terra prometida. Isto ocorreu no século XVIII a.C. O Senhor prometeu que ele seria o fundador de uma grande nação, o patriarca do povo escolhido por Deus. Abraão acreditou no Senhor e aceitou sua palavra, partindo com sua mulher, Sara, para a terra onde “corriam leite e mel”. Estabeleceu-se assim a Antiga Aliança entre Deus e os homens, por meio de Abraão. Este teve dois filhos: Isaac, cujos descendentes formaram o povo hebreu; e Ismael, cuja descendência deu origem ao povo árabe. Isaac, que se casou com Rebeca, teve também dois filhos: os gêmeos Esaú e Jacó.

30. Quem foi o pai dos doze patriarcas?

A história de Israel como nação começa com Jacó, neto de Abraão, também chamado Israel, daí o nome que o povo passou a adotar depois de sua instalação em Canaã. Até então eram chamados hebreus, que significa “povo que passa, que anda”. Jacó teve doze filhos, que foram os fundadores das doze tribos de Israel. Sua primeira esposa, Lia, teve seis filhos: Rubem, o primogênito, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulon. A outra esposa, Raquel, teve dois filhos: José e Benjamim. Com Bala, escrava de Raquel, Jacó teve mais dois filhos: Dã e Neftali. E com Zelfa, escrava de Lia, outros dois: Gad e Aser. Um dos filhos de Jacó, José, acabou por viver no Egito e, quando chegaram os anos de fome e de miséria em toda aquela região, Jacó também foi para o Egito com seus filhos e seu povo. Seus descendentes ali viveram durante séculos.

31. Quem conduziu os israelitas para fora do Egito?

Depois da morte de José (filho de Jacó), que gozava de alto prestígio junto aos egípcios, estes passaram a maltratar os israelitas, tornando-os escravos. Deus compadeceu-se dos sofrimentos de seu povo naquele país e escolheu um líder para reconduzi-los à Terra Prometida (isto ocorreu no século XIII a.C.). Esse líder foi Moisés, com quem Deus falou no deserto, identificando-se como Javé (nome que significa “eu sou”, o que mostra que Deus é vivo, ativo e criador e também imutável). Moisés recebeu de Deus os dez mandamentos, suprema lei divina, que o povo deveria seguir e respeitar. Desde a partida do Egito, Deus protegeu seu povo de todos os modos, dando-lhes alimento, guiando-lhe pelo longo e árduo caminho desconhecido através do deserto, combatendo por ele e vencendo batalhas contra os inimigos.

32. Quem conduziu os israelitas para dentro da “Terra Prometida”?

Após a morte de Moisés, Josué assumiu a liderança do povo israelita. Foi ele quem finalmente entrou em Canaã, instalando seu povo na terra prometida por Deus. Moisés viu a terra apenas de longe, mas não entrou. Durante a longa travessia pelo deserto, que durou 40 anos, os israelitas queixaram-se muitas vezes das péssimas condições de sua viagem, duvidando da promessa divina. Deus, aborrecido por ver que o povo não confiava nele, mesmo depois de ter feito tantos prodígios em seu benefício, prometeu destruí-lo. Moisés interveio pelo povo, clamando pela misericórdia do Senhor e este poupou as vidas dos israelitas. Mas disse que nenhum daqueles que haviam saído do Egito entraria em Canaã (somente seus descendentes), exceto Josué e Caleb. E assim Moisés nunca entrou na terra prometida.

33. Quem foi o primeiro rei dos israelitas?

Já instaladas em Canaã, as doze tribos combatiam os inimigos e viviam sem um líder único. Havia os juízes (século XII a.C.), que sugeriam ao povo como livrar-se das mãos dos opressores, davam conselhos e decidiam questões. Com o tempo, os israelitas passaram a desejar um rei que os governasse, centralizasse o poder e fizesse do povo não mais uma nação, mas um Estado independente. Deus escolheu Saul para ser o primeiro rei de seu povo (século XI a.C.), um homem jovem, alto e muito bonito, segundo a Bíblia. No começo, Saul fez um bom governo, obedecendo a Deus e seus mandamentos. Mas logo abandonou a humildade e passou a agir com orgulho, desobedecendo a Deus e fazendo o que queria. Deus enviou então Samuel para dizer a Saul que ele o desagradava e que em breve não seria mais o rei de Israel.

  1. Qual foi o mais importante rei de Israel? E o mais poderoso e sábio?

    Foi Davi. Deus escolheu-o quando era ainda muito jovem e pastoreava os rebanhos de seu pai, na cidade de Belém, na Judéia. Davi gostava de música: sabia tocar harpa e compor canções (compôs os Salmos). Foi também um brilhante soldado: empreendeu muitas guerras contra os povos vizinhos, inimigos de Israel. Estabeleceu a paz em todo o reino e governou durante muitos anos, sempre com retidão e justiça. O mais poderoso e sábio dos reis de Israel foi Salomão, filho de Davi. Aproveitando a paz estabelecida por seu Pai, fortaleceu o reino e deu-lhe grande esplendor. Construiu o magnífico templo de Jerusalém, vários palácios, armazéns, estradas e fortificações. Ampliou o comércio de importação e exportação com outras nações, desenvolveu a indústria do ferro e criou uma frota no mar Vermelho.

35. Quem eram os profetas?

Profeta não é um advinho, alguém que olha para o futuro como um vidente. Deus falava com os profetas da Bíblia, dando-lhes mensagens que deviam ser transmitidas ao povo, a um grupo ou a uma pessoa em particular. O profeta tinha então o dever de comunicar a mensagem, por maiores que fossem as dificuldades que encontrasse. Nem sempre, porém, eles eram compreendidos. As pessoas às vezes zombavam deles, perseguiam-nos, porque a verdade era dura de ser ouvida. Eles criticavam os que cometiam injustiças, os que oprimiam os pobres, e denunciavam os que adoravam ídolos e faziam tudo por dinheiro. Os profetas provinham de todas as classes sociais: podiam ser sacerdotes, aristocratas, camponeses. Um terço da Bíblia é composta por palavras dos profetas, como, por exemplo, Elias, Amós, Isaías, Oséias, Jeremias. Ezequiel, Daniel.

36. O que faziam os sumos sacerdotes?

A tarefa dos sacerdotes era cuidar dos assuntos religiosos. Presidiam as orações e sacrifícios e cuidavam do templo e do tabernáculo. O sacerdote também instruía o povo, falando-lhe da libertação do Egito, dos mandamentos de Deus e da Antiga Aliança. E, para reunir o povo em dias especiais de festa, os sacerdotes eram encarregados de tocar as trombetas de prata. Além dos sacerdotes, havia os chefes dos sacerdotes e os sumos sacerdotes. Para ser sacerdote era preciso pertencer à tribo dos levitas, uma tribo designada por Moisés para esse serviço. Os chefes dos sacerdotes, juntamente com o sumo sacerdote (um para cada período), coordenavam e supervisionavam os trabalhos. No templo, o sumo sacerdote trabalhava apenas temporariamente. O restante do tempo viajava pelas cidades de Israel ou exercia serviços comuns, como qualquer outra pessoa.

Outros Povos

37. Que língua falavam os primeiros povos bíblicos?

O Livro do Gênesis diz que no começo toda a terra tinha uma só língua e usava as mesmas palavras. Um dia, alguns homens, querendo fortalecer seu poder e sua celebridade, decidiram construir uma cidade e uma grande e alta torre, que deveria alcançar o céu. Iniciaram primeiro a construção da torre mas, antes que a terminassem, o Senhor desceu e diversificou a linguagem deles, de modo que não mais puderam se compreender. Daí o nome de Babel dado à cidade, cuja construção foi interrompida, e também à torre, palavra que significa “misturar, confundir”. Foi a partir de então que os homens se dispersaram por toda a terra, passando a falar diferentes línguas.

38. Quem eram os cananeus?

O povo cananeu era um dos que ocupavam Canaã, a Terra Prometida. A Bíblia enumera outros seis povos que lá viviam. Os cananeus chegaram ali por volta do ano 1300 a.C. Canaã, nessa época, ocupava toda a costa mediterrânea, correspondendo hoje a Israel, Líbano e parte da Síria. Os cananeus (ou fenícios) mantinham um próspero comércio, que era sua principal atividade econômica: exportavam cedro, azeite e vinho e importavam do Egito, Creta e Grécia outros produtos, como papel, cerâmica e metais. Mas o maior legado cananeu às civilizações foi o alfabeto e os números arábicos, inventados entre 2000 e 1600 a.C. Ao chegar a Canaã, os israelitas não encontraram muitas diferenças políticas e sociais. A grande diferença estava na religião: os cananeus eram politeístas (muitos deuses) e os israelitas monoteístas ( um só Deus).

39. Quem eram os filisteus?

Originários de Creta, os filisteus eram povos navegantes: possuíam uma frota de navios mercantes, e viviam em cinco cidades a sudoeste de Israel, das quais a principal era Gaza. A palavra Palestina originou-se do termo Filistéia, país dos filisteus. Adoravam vários deuses, alguns dos quais são mencionados na Bíblia, como Beelzebul, Astarte e Dagon. Foram ferrenhos adversários dos israelitas, quando estes chegaram a Canaã. No tempo dos juízes, os filisteus eram uma ameaça constante para Israel. Sansão combateu-os com sua força e sua esperteza: pôs fogo em suas colheitas (por meio de raposas), arrancou as portas de Gaza, matou mil filisteus com uma mandíbula de jumento e destruiu seu templo derrubando as colunas mestras. Os filisteus só foram vencidos pelo rei Davi e seu exército, em cuja frente marchava o próprio Deus.

40. Por que outros povos do Oriente Médio, como assírios, caldeus e persas, são citados na Bíblia?

Todos esses povos relacionaram-se com os israelitas e sua história. Os assírios, povo mesopotâmico, são citados nos livros de Oséias, Amós, Isaías e Jonas. A este último Deus ordenou ir a Nínive, capital da Assíria, proferir um oráculo aos ninivitas. Os caldeus (ou babilônios), também mesopotâmicos, conquistaram Jerusalém, levando os israelitas exilados para Babilônia (capital da Caldéia). O Livro de Daniel conta a história de jovens israelitas na corte do rei Nabucodonosor. Os persas, liderados pelo rei Ciro, derrotaram os babilônios e herdaram suas possessões, inclusive a Palestina. Por intervenção de Deus, Ciro permite que os israelitas voltem à sua terra e reconstruam seu templo, o que é contado no Livro de Esdras. E o Livro de Ester conta a história de uma jovem israelita, esposa do rei persa Assuero, que salva seu povo.

41. Em que livros das Bíblia são mencionados os gregos?

Nos livros do Novo Testamento. Paulo esteve pregando o cristianismo em várias cidades gregas e em outras da Ásia Menor onde se falava o grego. O século V a.C. foi o “século de ouro” da civilização grega. Atenas era a capital política (uma “democracia”, palavra que significa “governo do povo para o povo”) e cultural da Grécia, onde viviam notáveis líderes, filósofos, escritores e artistas, famosos até hoje, como Sócrates, Aristóteles, Platão, Sófocles, Eurípedes e muitos outros. Sob o governo de Alexandre Magno, o império grego estendeu-se por grande parte do Oriente Médio. O helenismo (termo derivado de Hélade, que quer dizer Grécia) espalhou-se por todo o mundo da época e a língua grega era a língua do comércio, da educação e da literatura. Os gregos tinham uma religião politeísta e por isso não aceitaram de imediato a doutrina de Paulo.

42. Que povo dominava o mundo no tempo de Jesus?

Durante toda a vida de Jesus, os romanos dominaram sua terra, a Palestina. Tanto que o Novo Testamento, ao falar da morte de Jesus, conta que ele foi julgado pelo governador romano, Pôncio Pilatos. O império romano estendia-se desde a península Ibérica até o Oriente Médio, abrangendo o norte da África e parte da atual Europa Central até o rio Reno, incluindo-se também as ilhas Britânicas. Os romanos eram em essência um povo belicoso, que empreendia sem cessar guerras de conquistas aos povos vizinhos, ampliando seu império. Eram também um povo muito prático, exímio construtor de estradas, para encurtar as distâncias entre suas vastas terras. Nos primeiros tempos do cristianismo, seus adeptos foram perseguidos, torturados e condenados à morte pelos romanos (crucificados, mortos a flechadas ou devorados por feras).

A alimentação e a cozinha

43. Que comiam os povos bíblicos?

A alimentação compunha-se de pão, cereais, frutas e vegetais. Em geral faziam três refeições ao dia. Pela manhã, apenas algo leve. O almoço e o jantar eram mais fartos. Somente as pessoas ricas comiam carne todos os dias: de carneiro, de boi, de cabra. Os pobres só tinham carne em ocasiões especiais. O peixe era um alimento mais barato e muito popular nos tempos do Novo Testamento. Leite e manteiga não eram largamente consumidos, pois não havia meios de conservá-los frescos, principalmente durante o verão. Queijo e iogurte eram mais comuns. No tempo de Jesus, as pessoas criavam galinhas, para poderem ter ovos em sua alimentação. O sal (muito abundante no mar morto) era usado na alimentação e também na vida social e religiosa: acordos eram “selados” com sal, símbolo de duração, e nos sacrifícios a Deus lançava-se sal sobre o altar.

44. Que alimentos eram cultivados?

Desde os tempos da Adão e Eva, a Bíblia menciona o cultivo da terra. Os produtos mais plantados eram os cereais ― trigo, cevada, centeio, lentilha, feijão ― , verduras e frutas. Cebolas, pepinos, alhos e ervilhas eram usados para fazer sopas. Entre as frutas, as uvas eram comidas frescas ou passas; os figos, frescos ou secos; as tâmaras eram consumidas frescas, mas com elas se fazia também um molho (mistura de tâmaras, uvas, figos e vinagre); e as azeitonas, frescas ou em conserva. Havia também romãs, amêndoas e pistaches. Laranjas e limões começaram a ser cultivados nos tempos do Novo Testamento. Quando os campos não produziam, a população passava fome, como, por exemplo, no tempo de José do Egito. As plantações eram vitais; por isso, uma das táticas de guerra era destruir as colheitas do inimigo.

45. Como era feito o pão?

Todo o trabalho era feito por mulheres. Os grãos eram moídos entre duas mós de pedra. A massa era feita com farinha, água e um pouco de azeite. Não havia fermento fresco, por isso a levedura era provocada com um pouco da massa já fermentada, usada na fornada anterior e guardada para esse fim. O pão era assado em fornos improvisados na terra: um montículo, com um buraco no meio, onde se punham as brasas; ou então entre pedras, dispostas em torno de brasas. O pão era um alimento fundamental para os povos da Bíblia. O de centeio era o mais comum, mas se comia também o de trigo. As pessoas ricas possuíam “fogões” feitos de barro. O pão era achatado, liso e macio enquanto fresco; depois de frio, ficava seco e endurecido. E nunca era cortado, mas sim “quebrado” com as mãos. Jesus mostra esse costume com bastante freqüência.

46. Que outros alimentos eram assados?

Além do pão, os povos bíblicos assavam doces em pasta, bolos e tortas. Mas estes eram servidos somente em ocasiões especiais. E, é claro, também cozinhavam outros alimentos, em água ou em óleo (a água era escassa), como o peixe, a carne e os vegetais. Era costume servir aos convidados e hóspedes um cozido de carne com vegetais, acompanhado de leite, queijo e azeitonas. Receber os hóspedes com cordialidade e fartura era muito importante entre as famílias, tanto no Antigo como no Novo Testamento. E mesmo um viajante desconhecido, que estivesse de passagem e batesse à porta, deveria ser recebido com gentil hospitalidade. Este era um hábito social ― quase uma lei ― que não podia ser esquecido e que deveria perdurar durante todo o tempo em que os convidados ou hóspedes permanecessem na casa.

47. Quais os alimentos “permitidos”?

A religião israelita tem severas leis sobre alimentação. A Bíblia enumera expressamente o que pode ser comido. Entre os alimentos “permitidos” estão as carnes dos animais que ruminam, que têm a unha fendida e o casco dividido, como, por exemplo, o boi, a cabra e o carneiro. E só podem ser comidos os peixes que possuem escamas e barbatanas. A Bíblia faz uma longa lista das aves proibidas, de onde se conclui que todas as outras são permitidas. E era permitido também comer alguns insetos, como os gafanhotos. Estes eram preparados de vários modos: fritos, cozidos, ou secos e transformados em farinha, com a qual se confeccionavam doces e outras iguarias.

48. Quais os alimentos “proibidos”?

No Livro do Levítico, capítulo 11, a Bíblia especifica com pormenores os alimentos “proibidos” aos israelitas. Comê-los, pois, significava renegar a religião, a fé em Deus. Entre as carnes estavam proibidas as dos animais não ruminantes e sem unha fendida e casco dividido, como o cavalo. Não era permitido também comer carne de animais que ruminavam, mas que não tinham a unha fendida e o casco dividido, como o coelho e o camelo. E, vice versa, não se comia carne de animais que tinham a unha fendida e o casco dividido, mas não ruminavam, como o porco. Eram proibidas ainda as aves de rapina, a garça, o avestruz, o cisne, a gaivota, e outras. E, dos animais aquáticos, não se comiam os que não tinham escamas e barbatanas, como as rãs. Os insetos de quatro pés, ratos e lagartixas eram igualmente proibidos.

49. Os povos bíblicos conheciam o açúcar?

Não. Para adoçar os alimentos, os israelitas usavam em geral o mel de abelhas, mas também faziam xaropes, de alfarrobas ou de tâmaras, adoçando os alimentos conforme o gosto de cada um. Era comum, por ex., tomarem leite adoçado com mel. Para dar um sabor mais forte à comida, usavam-se a menta, o anis e o cominho, além de sementes de erva doce. Com isso, diversificavam um pouco o gosto dos pratos diários, já que não havia uma grande variedade de alimentos. As especiarias, como pimenta, cravo e canela só apareceram no tempo do rei Salomão, que as importava da Ásia e da África. Porém, como eram caros e raros, esses temperos só faziam parte das mesas das pessoas mais ricas.

50. Quais eram as bebidas dos povos da Bíblia?

As principais bebidas eram a água, o leite e o vinho. A água nem sempre era potável. Bebia-se água das fontes ou dos poços caseiros. A água era colocada em cântaros de barro, conservando-se fresca por mais tempo. O leite mais usado era o de cabra. Cada família, em geral, possuía uma ou mais cabras em casa, bebendo imediatamente o leite retirado, pois que não se conservava por muito tempo. Como a água continha muitos germes e o leite se deteriorava com rapidez, o vinho era a bebida diária. Quando as uvas eram colhidas, bebia-se também suco de uvas, amassadas e coadas. O vinho era feito com o suco fermentado de uvas pisadas no lagar. Vinho misturado com mirra ou fel era uma bebida eficiente no alívio de dores (foi o que Jesus bebeu na cruz); misturado com azeite de oliva servia para limpar e cicatrizar feridas (bálsamo usado pelo bom samaritano).

51. Quais são as mais importantes história bíblicas que falam de alimentos?

A Bíblia menciona com freqüência histórias em que entram alimentos. O Livro do Êxodo contém um belo relato sobre a comida do povo de Deus no deserto: quando os israelitas, cansados e famintos, erravam a caminho da Terra Prometida, eles murmuraram contra Moisés e seu irmão Aarão, dizendo que preferiam ter ficado no Egito, onde o pão e as panelas de carne eram abundantes. Para alimentá-los, Deus fez então “chover” o maná (pão do céu) e enviou codornizes em tal quantidade que elas cobriram o céu sobre o acampamento. Também o Primeiro Livro dos Reis, ao contar a história do profeta Elias, diz que certa vez ele foi alimentado por corvos: estes traziam-lhe diariamente pão e carne. No Novo Testamento, há a história da multiplicação dos pães: tomando cinco pães e dois peixes, Jesus alimentou uma multidão de cinco mil pessoas.

52. Qual a mais famosa refeição mencionada na Bíblia?

Sem dúvida, é a última ceia feita por Jesus na véspera de sua morte, história mencionada nos quatro Evangelhos. Jesus partiu o pão e deu-o aos doze discípulos, dizendo que representava o seu corpo, a ser sacrificado por todos na cruz; depois tomou o vinho e deu-o também aos seus companheiros, dizendo que representava o seu sangue, a ser derramado para o perdão dos pecados. Jesus instituiu assim a Eucaristia e selou a Nova Aliança de Deus com os homens. Hoje em dia, quando tomamos a comunhão e bebemos o vinho durante a missa, relembramos a última ceia de Jesus com seus discípulos. Mais tarde, após sua ressurreição, Jesus protagonizou ainda duas outras cenas de refeição: ele preparou na praia para seus companheiros um peixe assado sobre brasas e participou de um jantar com dois amigos na cidade de Emaús.

As Roupas

53. Que roupas usavam os povos da Bíblia?

Os homens usavam como roupa íntima uma tanga ou uma saia curta. Por cima, uma túnica que lhes chegava até a metade da perna, ajustada na cintura com uma faixa dobrada e às vezes torcida, ou um cinturão. Tinham também um manto de lã grossa, longo, que chegava até os pés. Usavam-no sobre as costas, fechando-o na frente com as mãos. Era também comum usarem-no dobrado, sobre um dos ombros, em geral durante o dia, quando fazia calor. As mulheres usavam por baixo de toda a roupa uma saia até os joelhos. E por cima um vestido longo, até os tornozelos, mais comprido do que a túnica dos homens, atado na cintura com um cordão. Era em geral de cor azul, bem claro. As crianças não tinham trajes especiais: seguiam o mesmo estilo dos adultos. Os sacerdotes usavam roupas características, de acordo com a lei.

54. Todas as pessoas usavam o mesmo tipo de vestimenta?

Não havia variação quanto à moda: o estilo era o mesmo para todos. A grande diferença estava na posição social da pessoa. Os ricos possuíam roupas de trabalho, de festa, de inverno e de verão. Os homens abastados tinham vários casacos leves, que usavam por cima da túnica, com mangas largas e longas. Os pobres possuíam apenas uma roupa, tecida em lã ou pêlo de cabra, que durava um longo tempo. As pessoas muito pobres e os profetas costumavam vestir-se apenas com peles de animais, como João Batista, que usava uma pele de camelo. Os trajes dos ricos eram feitos de lã macia ou de linho, e seus casacos, de fino pêlo de camelo. Curiosamente, os personagens bíblicos não possuíam roupas especiais para dormir. As mulheres ricas usavam vestidos de linho e de seda. Até o século VI a.C., não se conhecia o algodão.

55. De que cor eram as roupas?

Os trajes eram brancos ou coloridos. As roupas feitas de linho eram em geral brancas, pois não se tingiam esses fios. Eram porém bordadas com linhas douradas ou azuis, formando barras nas bordas das túnicas ou dos mantos. As mulheres costumavam ter a parte superior de suas túnicas azul claro, bordada com um desenho especial, seguindo o modelo próprio de cada tribo. As roupas de lã eram em geral coloridas, exceto aquelas feitas com lã de carneiros mantidos sempre dentro de casa, que eram muito brancas. As tinturas para tingimento das lãs eram obtidas de frutos, folhas, raízes e moluscos. Para o amarelo, usava-se a amêndoa; para o vermelho e seus tons, diversas raízes; e para o azul, moluscos. A cor roxa era símbolo da riqueza e do poder: Por isso, os nobres e os ricos a usavam constantemente.

56. Quem confeccionava os trajes?

De modo geral, as roupas eram feitas por mulheres. As mães e filhas de cada família tinham, entre outras, essa função específica. As mulheres ricas não confeccionavam suas roupas: tinham escravas para fazê-lo, com os tecidos finos que adquiriam dos mercadores que vinham de longe. A primeira tarefa era fiar a lã, o linho ou a seda. Uma vez obtido o fio, tecia-se o tecido, que resultava mais grosso ou mais fino,conforme a espessura dos fios. Com o tecido pronto, moldava-se a roupa de homem ou de mulher. Algumas mulheres do povo, para aumentar sua renda doméstica, faziam roupas para vender. Nos Atos dos Apóstolos podemos ler um exemplo dessa atividade: uma mulher chamada Tabita falece e suas clientes, chorando sua morte, exibem as túnicas e os vestidos que ela lhes fizera.

57. O que levavam nos pés? E na cabeça?

Havia calçados de vários modelos, mas eram todos sandálias de couro leve, com tiras que prendiam os dedos, o calcanhar e os tornozelos. Somente os romanos usavam sandálias mais fechadas e pesadas, que lhes protegiam mais os pés. As pessoas muito pobres andavam descalças. Dentro de casa e nos lugares sagrados, como templos e sinagogas, todos tiravam as sandálias em sinal de respeito: descalçavam primeiro a do pé direito, calçando-a também em primeiro lugar ao sair. Como as estradas eram de terra, os pés sujavam-se logo. Por isso, ao chegar a uma casa, um servo vinha lavar os pés dos visitantes, colocando depois um pouco de óleo perfumado. Na cabeça usava-se um pano fino, preso por uma argola de cordões: ele protegia do sol durante o dia e do vento frio durante a noite. Alguns usavam também um tipo de turbante.

58. Quais as passagens em que a Bíblia faz menção especial a certas roupas?

O Livro do Gênesis fala da túnica colorida que Jacó dera ao seu filho José, por ser seu preferido, provocando inveja em seus irmãos: estes então resolveram vendê-lo a mercadores que o levaram para o Egito. Também no Primeiro Livro de Samuel, fala-se da roupa do gigante Golias: um capacete de bronze na cabeça e uma couraça de escamas de bronze no peito, pesando 60 quilos. O Livro de Daniel refere-se a uma roupa feita de saco, usada pelas pessoas em sinal de arrependimento por suas faltas. Essa roupa, confeccionada com pêlos de cabra e de camelo, provocava grande desconforto em quem a usava. No Novo Testamento, no Evangelho de Lucas, Jesus diz que os lírios não fiavam nem teciam, mas tinham “roupas” dadas por Deus mais belas do que as do rei Salomão. E, no Evangelho de João, lemos que a túnica de Jesus era tecida de alto a baixo, sem costura.

As casas

59. Como eram as habitações dos povos bíblicos?

Os povos bíblicos viviam em casas, em lugares determinados, ou levavam uma vida nômade, deslocando-se de um lugar para outro e habitando em tendas desmontáveis. Abraão, natural da cidade de Ur, na Caldéia, deixou Harã, na Mesopotâmia, onde morava com sua família e, obedecendo a uma ordem divina, passou a levar uma vida nômade, caminhando pelo deserto e vivendo em tendas. Naquele tempo, as pessoas permaneciam durante todo o dia em casa, pois cada um trabalhava em seu próprio lar. A casa era tão importante para o povo que, em hebraico, a palavra “casa” designa também “família”. Atualmente, muitas das casas dos vilarejos do Oriente Médio ainda preservam o mesmo estilo dos tempos bíblicos. E os povos nômades do deserto, como os beduínos e tuaregues, ainda vivem em tendas erguidas nos mesmos moldes.

60. Como eram construídas as casas?

Elas tinham alicerces de pedra, ou então de tijolos, em locais onde as pedras eram raras. Também as paredes eram feitas de pedras ou tijolos. Estes eram fabricados pelos próprios proprietários das casas com barro, palha, pedaços de conchas e de carvão, fibras de palmeira e água, tudo formando uma massa homogênea, calcada com os pés descalços. Modelavam-se então os tijolos, que secavam ao sol ou dentro de fornos. Uma vez prontos, os tijolos eram então superpostos para erguer as paredes, ligados por uma argamassa feita de lama. Depois de construídas todas as paredes, internas e externas, fazia-se o telhado, com fibras trançadas, recobertas com folhas e barro liso. Quando os israelitas se tornaram escravos dos egípcios, estes os obrigaram a fabricar milhares de tijolos para construção de suas pirâmides, templos e cidades.

61. Por que o telhado era importante?

Porque era como um grande salão da casa, um terraço onde se podia dormir no verão, ou descansar ao cair da tarde. Para acesso ao telhado, as casas dispunham de uma escada lateral. Às vezes as famílias erguiam uma pequena tenda no telhado, para melhor abrigar-se de sol e do vento. Durante o estio, o telhado servia também para secar ao sol grãos e frutas, como uvas, figos e damascos. Nas épocas chuvosas, era comum crescer grama nos telhados: os pequenos animais domésticos eram então colocados ali para pastar. O Livro do Deuteronômio fala de uma lei específica sobre a construção de telhados: todos deviam ter um parapeito erguido nas bordas, para evitar que alguém caísse, isentando assim de culpa o dono da casa. E o Evangelho de Marcos conta a história de um doente que foi introduzido dentro da casa onde estava Jesus por um buraco no telhado.

62. De que eram feitas as tendas?

De pêlo de cabra. Depois de tosados os animais, as mulheres fiavam e teciam os pêlos num grande tear. Resultava um tecido lanoso muito forte, geralmente listrado de preto e marrom. Argolas de madeira, fixadas no centro e nas bordas do pano, prendiam-no em estacas por meio de cordas, erguendo assim a tenda. Esta tinha a parte do fundo fechada, com uma divisória interna feita de bambus entretecidos: ali ficavam as mulheres e as reservas de alimentos. A parte da frente tinha uma abertura, como uma “varanda”, onde se recebiam os visitantes. O chão era de terra batida, às vezes forrado por uma esteira. Paulo, o grande apóstolo, autor das Cartas do Novo Testamento, sabia fabricar tendas, como podemos ler nos Atos dos Apóstolos.

63. As casas bíblicas eram todas iguais?

Não, variavam segundo as posses dos seus proprietários. Os pobres tinham casas bem simples, em geral com uma só dependência interna: de um lado, dormiam em esteiras sobre o chão; de outro, comiam e guardavam seus alimentos e utensílios. Perto da porta havia um espaço onde, no inverno, à noite, colocavam os animais para protegê-los das baixas temperaturas. O terraço era a dependência onde trabalhavam e/ou descansavam. As casas tinham janelas pequenas, para que não ficassem muito quentes no verão. Eram portanto muito escuras internamente, mantendo-se sempre uma lamparina acesa. No lado de fora havia geralmente um pátio pequeno, onde ficavam ao animais durante o dia. Como dentro de todas as casas havia um buraco no chão, onde acendiam o fogo para cozinhar, o ambiente ficava sempre enfumaçado.

64. Como eram as habitações das pessoas ricas?

Eram casas bem grandes, térreas ou com dois pavimentos, cercadas por altos muros. A porta de entrada dava para um pátio interno, onde havia um local para os animais beberem água à sombra de palmeiras. De um lado desse pátio ficavam as dependências principais: sala de visitas, sala de refeições, uma escada para subir ao terraço, cozinha e quartos para empregados. No outro lado do pátio ficavam os dormitórios, com muitas janelas, umas dando para o mesmo pátio e outras para um jardim, que ficava nos fundos. Desse modo, os dormitórios tinham ar corrente, permanecendo frescos mesmo no alto verão. No inverno, dormia-se nos quartos mais ensolarados (mais quentes). Nos tempos do Novo Testamento, as pessoas ricas passaram a dispor de banheiros dentro das casas: as banheiras eram como piscinas, construídas ao nível do chão.

65. As casas eram confortáveis?

Evidentemente, dependia da construção. As casas grandes e ricas eram melhores do que as pequenas e pobres. Estas tinham mais ou menos o mesmo conforto de uma tenda, enquanto aquelas eram às vezes luxuosas demais para o número de pessoas que as habitavam. Em geral, as famílias pobres eram mais numerosas do que as ricas, o que tornava as casas mais ou menos confortáveis. Entre os pobres era comum que pais, filhos, avós, tios e primos morassem todos juntos. Por isso, às vezes, construíam uma dependência a mais nos fundos da casa. Já os ricos tinham uma casa para cada família, isto é, os pais viviam apenas com seus filhos. Possuíam também mobília ― cadeiras, mesas e camas ― e uma melhor iluminação interna, com lâmpadas a óleo. Todos, porém, ricos e pobres, recebiam hóspedes e viajantes com muita hospitalidade e prazer.

66. Como eram as cidades e vilas?

A diferença entre cidade e vila nos templos bíblicos não era estabelecida pelo tamanho ou pelo número de seus habitantes, mas sim pelas muralhas. As cidades eram sempre cercadas de muros, para proteção contra ataques de inimigos. As vilas não eram muradas. As cidades possuíam edifícios grandes, como o palácio do governador, o templo e um edifício onde se administrava a justiça. As vilas tinham apenas casas e um simples templo. Vilas e cidades eram em geral construídas junto a um rio, onde as terras eram mais férteis, ou no alto de um monte, lugar mais propício para a defesa, mas sempre próximas das rotas comerciais, por onde passavam os mercadores. A principal cidade bíblica é Jerusalém, cujo nome significa “cidade da paz”. Davi a tornou capital de todo o reino e seu filho Salomão a embelezou, levantando suas muralhas e seu templo.

As profissões

67. Quais são as principais profissões citadas na Bíblia?

No começo distinguem-se bem duas profissões: agricultor e pastor: Depois, com o desenvolvimento da vida urbana, começaram a surgir os primeiros artesãos. É claro que não havia profissionais especializados ou indústrias. As pessoas executavam serviços para suas próprias famílias e os “segredos” das tarefas eram passados de pai para filho. Quando as tarefas eram mais trabalhosas, como construir uma casa, os vizinhos auxiliavam-se mutuamente. Com o tempo, foram surgindo os primeiros profissionais. Os tempos bíblicos abrangem muitas épocas, nas quais o homem e a sociedade foram se modificando. Entre as profissões mais citadas na Bíblia estão, além dos artesãos (carpinteiros, ferreiros, pedreiros, tecelães, ceramistas, ourives, curtidores de couro), militares, políticos, escribas, sacerdotes e comerciantes.

68. Como era o trabalho do carpinteiro?

Esta é, sem dúvida, uma profissão bíblica que desperta em todos muita curiosidade, pois Jesus foi carpinteiro, antes de iniciar sua vida pública, mais ou menos aos 30 anos de idade. Segundo o costume, ele aprendera esse ofício com seu pai, José, um exímio artesão (os filhos em geral aprendiam a profissão do pai; alguns mudavam posteriormente). O carpinteiro bíblico trabalhava com tudo o que se relacionava à madeira: era ao mesmo tempo lenhador, marceneiro, entalhador, escultor e construtor de carroças. Fazia móveis de todos os tipos, brinquedos e utensílios de madeira, barras decorativas para as salas das casas mais ricas e instrumentos agrícolas em geral. Seus instrumentos de ofício eram o martelo, o machado, a serra, o buril, o furador, o compasso, o lápis e as tesouras de vários tipos.

69. Como eram os trabalhos do ferreiro e do ourives?

O ferreiro trabalhava com o ferro e o bronze, este uma ligação de cobre e estanho. Fabricava todos os tipos de arma, objetos para o culto nos templos e também utensílios de cozinha. Antes de os israelitas se estabelecerem em Canaã, o ferro já era ali trabalhado com habilidade pelos filisteus. No tempo de Davi apareceram os primeiros profissionais, que aprenderam as técnicas com seus vizinhos. O ferro era retirado das minas ao sul da mar Morto e o cobre, da península do Sinai. Os principais instrumentos do ferreiro eram a forja, a bigorna e o fole. Os ourives eram profissionais que trabalhavam com ouro, prata, marfim, pedras preciosas, âmbar e bronze. Faziam todos os tipos de jóia, objetos de adorno para o templo, estátuas para decoração de ricas residências, armas e também gravações. As moedas eram cunhadas ora por ferreiros, ora por ourives.

70. Como era o trabalho do ceramista?

A cerâmica dos israelitas não era tão bonita como a fabricada por seus vizinhos, os cananeus e filisteus. Os ceramitas faziam cântaros, tigelas, vasos para guardar papiros e pergaminhos (estes vasos eram portanto as “estantes de livros” da época), ladrilhos para escrever, brinquedos, utensílios variados, como lâmpadas, fontes e estatuetas. A argila era primeiro amassada com água, até formar uma pasta (havia sempre água nas proximidades da oficina do ceramista: um rio ou poço). Depois a massa era colocada num torno movido com os pés e, com as mãos, moldavam-se os objetos. Quando estes estivessem secos, o ceramista os lixava, envernizava e colocava no forno, para cozer o barro durante certo tempo, conforme a qualidade da cerâmica. Finalmente, os objetos eram decorados com tintas especiais, formando desenhos ou barras.

71. Como era o trabalho do pedreiro?

As construções dos israelitas, ao estabelecerem-se em Canaã, não eram muito notáveis. As famílias em mutirão construíam suas próprias casas, de maneira simples e tosca. Mais tarde, a partir dos reinados de Davi e Salomão, a profissão de pedreiro começou a especializar-se. O pedreiro bíblico trabalhava com tudo o que se relacionasse à construção: desde a extração da pedra das pedreiras e seu corte, ou a confecção manual dos tijolos, com uma mistura de barro e palha, moldando-os e secando-os ao sol, até o projeto do edifício, sua execução e acabamento. O pedreiro fazia assim casas, palácios, túmulos, poços e, principalmente, os belos edifícios onde residiam as pessoas mais abastadas. Esse profissional usava o martelo, a serra, o prumo, a régua e a espátula para alisar a argamassa que unia os tijolos.

72. Como eram os trabalhos do tecelão e do curtidor?

O tecelão profissional dos tempos bíblicos tecia apenas as roupas especiais dos sacerdotes e as das pessoas ricas, que não se dispunham a realizar esse trabalho. O povo tecia suas próprias roupas e outras peças que necessitava para uso diário. Por isso, muitas vezes, um tecelão desempenhava também as funções de curtidor e tintureiro. O curtidor limpava as peles de carneiro e de cabra, colocava-as de molho e depois secava-as ao sol. Uma vez curtidas as peles, delas fazia odres para água, leite e vinho, assentos para cadeiras, correias, sandálias, cintos, pergaminhos para escrever e brinquedos. Podia trabalhar também com lã de carneiro e pêlo de cabra: separava-os da camada de gordura subcutânea, lavava-os e deixava-os secar. Depois fazia casacos e mantas. O tintureiro tingia tecidos e peles. As cores mais procuradas eram a vermelha e a roxa.

73. Como era o trabalho dos agricultores e pastores?

Sem dúvida, essas são as mais antigas profissões bíblicas. A agricultura obedecia, em linhas gerais, ao mesmo procedimento usado até hoje nos campos, ou seja: preparo da terra, semeadura, colheita, debulha (dos grãos) e seleção. Os principais produtos agrícolas entre os israelitas eram o trigo, a cevada, a uva e a azeitona. Cultivavam-se também o linho e outras frutas. A semeadura e a colheita eram feitas manualmente; o arado era puxado por uma junta de bois. O pastoreio do gado era tarefa de homens ou mulheres jovens (às vezes, crianças). Retiravam o rebanho dos apriscos, levavam-no para pastar e guiavam-no de volta ao anoitecer, vigiando sempre para evitar o ataque de feras e de ladrões. Cuidavam também das crias e dos animais doentes. Os principais rebanhos israelitas eram de carneiros, cabras, bois e jumentos. O pastor levava apenas um cajado.

74. Como era o trabalho do escriba?

Ser escriba era ter uma das mais fascinantes profissões da Antiguidade. O trabalho de um escriba era bastante complexo, envolvendo muita cultura e erudição. Corresponderia hoje em dia, mais ou menos, aos trabalhos do advogado, jornalista, escritor, cronista e professor. Naquela época, somente poucas pessoas sabiam ler e escrever. Por isso o escriba lia e escrevia cartas e documentos para essas pessoas, estabelecia-lhes contatos e fazia contratos de compra e venda de terras, calculando o que deviam ao fisco. Alem disso, era um intérprete da lei, explicando nos templos seu significado e eficácia. Fazia também o registro dos principais acontecimentos do reino e escrevia episódios da história do povo de Israel, que ainda estivessem sendo transmitidos oralmente. Era ainda professor de crianças nas sinagogas, ensinando-as a ler, escrever e contar.

75. Havia médicos nos tempos bíblicos?

A profissão de médico (e cirurgião) é uma das mais antigas do mundo. O Código de Hamurábi (rei babilônico), de 1750 a.C., regularizava a prática dessa profissão. O Antigo Testamento fala de muitas doenças, como a lepra, a gota e a epilepsia (a causa desta última era atribuída à possessão de maus espíritos ou à Lua), mas não de médicos. Uma das poucas referências a esse profissional está no Primeiro Livro dos Reis, quando Asa trata de sua gota com médicos. Para os israelitas, somente Deus tinha o poder de curar, embora o Livro do Eclesiástico diga que Deus dá o dom da cura a alguns de seus filhos, instruindo-os sobre remédios. No tempo do Novo Testamento, a medicina já progredira e os médicos tinham mais prestígio. A mulher curada por Jesus de um fluxo de sangue havia consultado vários médicos e Lucas, companheiro de Paulo, era médico.

76. Como atuavam os comerciantes?

Apesar de estar situado no cruzamento de várias e importantes rotas comerciais da Antiguidade, por terra e por mar, Israel, pelo menos nos primeiros tempos bíblicos, não apresenta um comércio desenvolvido. Naquela época, por exemplo, já existiam bancos em Babilônia, mas nada parecido em Israel. Os poucos comerciantes locais vendiam (ou trocavam) mercadorias artesanais, como vasos, cestos, ou animais e alimentos, pois cada família tinha sua própria produção. No tempo de rei Salomão, que se aliou aos fenícios ― os melhores comerciantes da Idade Antiga ―, é que o comércio começou a desenvolver-se. Por intermédio de mercadores que iam para a Arábia, Pérsia, África, Ásia Menor e Egito, Israel importava estanho, chumbo, prata, cobre, madeira, linho, púrpura, especiarias e ouro; e exportava azeite, cereais, frutas, resinas aromáticas, mirra, lã e roupas.

77. Como era o trabalho dos militares ?

Eis outra das mais antigas profissões do mundo. Infelizmente, a humanidade sempre enfrentou sérios problemas, como guerras e disputas, e inúmeras outras dificuldades, como necessidade de policiamento e repressão. Em Israel todo homem era potencialmente considerado um soldado. Os chefes das tribos, os juízes ou reis podiam convocá-lo a participar do exército em batalhas, invasões ou na defesa de cidades. A Bíblia não fala de modo específico da organização do exército de Israel, mas sabemos, por exemplo, que o rei Davi era um exímio militar. Os soldados israelitas vestiam elmo e armadura metálicos e traziam um pesado escudo para defender-se. Flechas, arcos, lança, aríetes, adagas, espadas e carros de guerra (e às vezes até elefantes) eram outros instrumentos bélicos levados para os combates pelos povos bíblicos.

78. Quais as funções dos políticos da época?

A história de Israel começa com um povo (Abraão e sua família) em busca de uma terra. Depois da chegada em Canaã, o povo transforma-se em nação, com doze tribos unidas por uma única descendência e uma só religião. Depois surgiram os juízes, que não governavam propriamente, mas administravam a justiça civil e decidiam questões comunitárias da confederação. Até então, o chefe supremo de Israel era Deus. Quando se instaurou a monarquia, surgiram algumas figuras de destaque na política interna: além do rei, havia o mordomo do palácio (primeiro ministro), o secretário real (secretário de Estado) e o arauto real (espécie de ministro das relações exteriores). Havia ainda os chefes militares (guarda pessoal do rei, não pertencente ao exército), os governadores de províncias e os conselhos de anciãos (em cada cidade).

As viagens

79. Como se viajava nos tempos da Bíblia?

Normalmente, as pessoas costumavam viajar a pé. Distâncias que hoje nos parecem curtas tornavam-se longas quando percorridas caminhando. Os viajantes às vezes levavam jumentos, os principais animais de carga em Israel, mas apenas para transportar bagagens, mulheres ou pessoas doentes. Os mercadores viajavam em caravanas, sempre montados em camelos, animais muito resistentes, capazes de transportar, além da pessoa, uma carga de 180 quilos. Como percorriam distâncias mais longas e tinham datas marcadas para a entrega das mercadorias, nunca viajavam a pé. E também andavam sempre em grupo, pois era menos arriscado: assaltantes podiam interromper a viagem a qualquer momento. Os cavalos eram usados mais em batalhas, pois eram menos resistentes do que os camelos e jumentos e davam maior despesa.

80. Quais eram os principais motivos das viagens naquela época?

Muitas eram as razões que obrigavam o povo a viajar. Sem dúvida, a principal era o comércio. Havia rotas por terra e por mar para as caravanas e barcos de mercadores. No princípio, as viagens dos comerciantes eram breves: de uma cidade para outra, onde os mercados eram erguidos junto às portas, encostados nas muralhas, para facilitar o acesso de vendedores e compradores. Depois, com a importação e exportação de produtos, as rotas comerciais foram se ampliando. Outro motivo de viagem, principalmente entre os nômades, era a busca de novas pastagens para seus rebanhos e de locais com fácil acesso à água, onde pudessem erguer suas tendas. Viajava-se também quando a seca ou as pragas não permitiam as colheitas: para não morrer de fome, as pessoas viajavam em direção a terra férteis, onde compravam alimentos.

81. Qual foi a primeira viagem realizada por Jesus?

Jesus viajou pela primeira vez pouco antes de seu nascimento, quando ainda estava no seio de sua mãe. Naquele tempo, os romanos, que dominavam o “mundo mediterrâneo”, ordenaram que se fizesse um censo em todo o Império. As pessoas deveriam inscrever-se nas suas cidades de origem. Assim, se habitassem em outra cidade, deveriam obrigatoriamente fazer uma viagem: era uma imposição do Estado. Os pais de Jesus, Maria e José, moravam em Nazaré, na Galiléia, mas José era originário de Belém, na Judéia. Por isso, o casal teve de fazer uma viagem: José, a pé; Maria, no fim da gravidez, sobre o lombo de um jumento. Faltavam poucos dias para o nascimento do menino Jesus: ele veio à luz numa noite, em Belém, logo após a chegada de seus pais àquela cidade.

82. E qual foi a segunda viagem de Jesus?

Segundo o Evangelho de Mateus, a segunda viagem de Jesus foi efetuada pouco tempo depois de seu nascimento. Tendo sido visitado em Belém por magos do Oriente, que procuravam o rei dos judeus que acabara de nascer, Jesus passou a correr um sério risco: com medo de ver seu poder ameaçado, o rei Herodes, ao saber do nascimento do Cristo (Messias), mandou executar a fio de espada todos os meninos de dois anos para baixo. Jesus porém não foi atingido pela cruel sentença. Um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe que fugisse com a família para o Egito e lá permanecesse até a morte de Herodes. Mateus não diz quanto tempo eles lá ficaram mas, pelo registro histórico da morte de Herodes, calcula-se que Jesus tenha morado com seus pais no Egito durante mais ou menos quatro anos.

83. Quando Jesus foi a Jerusalém pela primeira vez?

Todas as famílias israelitas costumavam ir anualmente a Jerusalém para a festa da Páscoa. Era costume entre os judeus levar os filhos ao grande templo de Jerusalém, pela primeira vez, quando os meninos completassem doze anos. Foi assim que, nessa idade, Jesus percorreu, provavelmente a pé, a distância entre Nazaré, onde a família morava, e Jerusalém, a grande capital de Israel, levando muitos dias. As famílias organizavam-se em caravanas, para que pudessem auxiliar-se mutuamente durante a viagem e evitar o ataque de assaltantes de estrada. Por isso, ao regressar a Nazaré, os pais de Jesus não perceberam que ele estava ausente, pensando que estivesse com outras pessoas do grupo. Ao verificar que o menino não estava na caravana, voltaram a Jerusalém e encontraram-no no templo, conversando com os doutores.

84. Nos tempos bíblicos já havia veículos?

Sim. Alguns poucos veículos com rodas já existiam. As pessoas ricas, os militares e funcionários do governo possuíam carros com duas rodas, puxados por cavalos, para seu transporte pessoal. Havia também carroças de pequeno porte, em geral pertencentes a agricultores ou comerciantes, puxadas por bois, com duas rodas, que levavam produtos do campo para a cidade, onde eram vendidos ou trocados. E existia ainda uma espécie de carruagem, parecida com um pequeno vagão, com quatro rodas, puxada por cavalos ou bois. Tanto as carroças quanto as carruagens eram conduzidas por uma pessoa que caminhava a pé, à sua frente. Algumas das carruagens tinham coberturas, para proteger a carga (ou as pessoas) do sol e da chuva. Os Atos dos Apóstolos registram a história da conversão do ministro da Etiópia, que viajava numa carruagem, voltando de Jerusalém.

85. Como eram as estradas?

Nos tempos do Antigo Testamento, as estradas eram muito rústicas: estreitas, empoeiradas, cheias de pedras e buracos, podendo transformar-se em caminhos de lama com as chuvas. Viajar portanto com carros, carroças ou carruagens demorava quase tanto tempo quanto viajar a pé. Nos tempos do Novo Testamento, com o domínio de Roma, as estradas começaram a multiplicar-se. E não eram mais caminhos de terra, mas estradas pavimentadas, com uma camada lisa de terra batida, sobre a qual se sobrepunham pedras uniformemente cortadas e dispostas. As estradas romanas eram tão boas que existem até hoje. Os romanos construíam pontes e túneis e aterravam lugares pantanosos. Mas suas estradas dirigiam-se somente a Roma e só passavam pelos lugares de que eles necessitavam. Por isso se diz que “todos os caminhos levam a Roma”.

86. Como eram feitas as viagens por mar e por rio?

O transporte marítimo era feito em barcos de madeira, movidos à vela e remos. Os barcos transportavam em geral carga, mas podiam levar também passageiros. O grande mar conhecido nos tempos bíblicos era o Mediterrâneo, chamado pelos romanos, nos tempos do Novo Testamento, de “mare Nostrum” (o nosso mar), porque Roma dominava todas as terras nas margens desse mar. Navegar pelo Mediterrâneo no verão era seguro, pois o clima era ameno e os ventos suaves impeliam os navios sem dificuldade. Mas no inverno era perigoso: só se podia navegar ao longo da costa, ou em pequenos trajetos entre os portos, pois havia o risco de naufrágio. Os barcos pertenciam a mercadores, mas podiam também ser alugados. As viagens por rio eram reduzidas: somente pelo Nilo, Tigre e Eufrates deslizavam barcaças para o transporte de grãos.

87. Que personagem do Antigo Testamento fez uma significativa viagem por mar?

Jonas. Um dia Deus ordenou-lhe ir a Nínive, capital da Assíria, na Mesopotâmia, para falar à população que a cidade iria ser destruída por causa de seu mau comportamento. Jonas, com medo de dizer sua profecia, pois o povo poderia ficar zangado com ele, tomou um navio que ia na direção contrária: para Társis, um porto na atual Espanha. O barco, em virtude de uma tormenta, estava a ponto de naufragar, quando o profeta, reconhecendo que não podia fugir de Deus, pediu ao comandante que o atirasse ao mar. Foi o que se fez. Imediatamente a tormenta cessou e Jonas foi engolido por uma baleia, que o lançou a uma praia três dias depois. O profeta decidiu então obedecer a Deus e foi a Nínive transmitir sua mensagem. Para sua grande surpresa, o povo ouviu-o com atenção, arrependeu-se e Nínive foi salva.

88. Que personagem do Novo Testamento fez várias viagens por mar?

Paulo, o grande missionário do cristianismo. Ele fez quatro grandes viagens. As três primeiras foram efetuadas parte por terra e parte por mar. A última, somente por mar, foi a viagem do cativeiro: Paulo foi da Palestina para Roma e não voltou mais, tendo sido executado na capital do império. Esta última viagem é descrita nos Atos dos Apóstolos com muitos pormenores. Poderíamos dizer que se faz um autêntico diário de bordo, com detalhes sobre as condições atmosféricas, a carga do navio e uma lista de passageiros. É um dos relatos mais palpitantes de toda a literatura antiga. O barco de carga em que Paulo viajava naufragou perto da ilha de Malta, em fins de setembro ou princípio de outubro, início do outono. Salvando-se, Paulo seguiu em outro barco para Pozzuoli, na época o porto mais próximo de Roma.

As festas

89. Quais as festas comemoradas anualmente pelos israelitas?

Desde o princípio da história de Israel, o povo escolhido celebrava festas anuais (até hoje comemoradas pelos israelitas). As mais importantes eram a Páscoa, a Festa das Colheitas (mais tarde chamada de Pentecostes) e a Festa dos Tabernáculos. Outras importantes festas do calendário israelita eram as Primícias, no último dia da festa da Páscoa, a Festa das Trombetas (Ano Novo), o Dia do Perdão, a Festa das Luzes e a Festa do Purim, sendo que estas duas últimas foram introduzidas bem mais tarde, nos séculos V e II a.C. Havia ainda outras celebrações: semanalmente, a cerimônia do Sábado; mensalmente, a da Lua Nova; a cada sete anos, o Ano Sabático; e a cada 50 anos, o Ano Jubilar. As festas eram oportunidades de agradecer a Deus pela vida e pelos alimentos, momentos de recordação da história de Israel e ocasiões de grande alegria e lazer.

90. Quando se celebrava a Páscoa?

Na primavera, comemorando-se a saída do povo hebreu do Egito e o fim de sua escravidão. Páscoa quer dizer “passagem”, relembrando a passagem do mar Vermelho, quando, liderados por Moisés, os israelitas atravessaram as águas a pé enxuto. Essa festa chama-se também dos “pães ázimos” (pães sem fermento) porque, em sua pressa de fugir do Egito, os hebreus não levedaram o pão, que deveriam comer com o cordeiro sacrificado e erva amarga (para lembrar seus anos de sofrimento no Egito), conforme Deus recomendara. No último dia da festa, que durava uma semana, havia o oferecimento das primícias: o primeiro maço de trigo colhido era oferecido a Deus, relembrando a primeira colheita na Terra Prometida. A princípio, a Páscoa era celebrada em família; depois passou-se a fazer peregrinação a Jerusalém.

91. Qual a relação da Festa da Páscoa com Jesus?

Nos tempos do Novo Testamento, o povo israelita costumava ir a Jerusalém em peregrinação para comemorar a Páscoa. Foi o que fizeram Jesus e seus discípulos. Montado num jumentinho, ele chegou à cidade uma semana antes da Páscoa (Domingo de Ramos). Naqueles dias, ele pregou no templo, expôs sua doutrina e falou ao povo sobre o reino de Deus. Sentindo-se ameaçadas por seu prestígio junto ao povo, as autoridades prenderam Jesus, julgaram-no e condenaram-no à morte. Cristo morreu crucificado (punição imposta aos criminosos pelos romanos) na sexta feira, véspera da Páscoa (sábado). No domingo, primeiro dia da semana, ele ressuscitou. Por isso, os cristãos passaram a comemorar a Páscoa de Cristo no domingo (esta palavra significa “dia do Senhor”). Neste caso, Páscoa também significa uma passagem: da vida terrena, Jesus passou para a vida eterna.

92. Como era a Festa das Colheitas?

Esta festa, também chamada Festa das Semanas, era celebrada sete semanas após a Páscoa. O povo agradecia a Deus pela colheita do trigo daquele ano e também por Moisés ter recebido os dez mandamentos da lei de Deus no monte Sinai. O sacerdote oferecia a Deus dois grandes pães assados, confeccionados com a primeira farinha feita com o trigo colhido, acompanhados de animais sacrificados. Mais tarde, essa festa passou a chamar-se Pentecostes, pois ocorria cinqüenta dias depois da Páscoa (em grego, a palavra “pentecostes” quer dizer “cinqüenta”). Os cristãos também comemoram essa festa, mas o nome Pentecostes tem, nesse caso, outro significado: cinqüenta dias após a ressurreição de Jesus, seus discípulos receberam o Espírito Santo, dando início à Igreja cristã e à expansão do cristianismo por todo o mundo.

93. Como eram a Festa das Trombetas e a Festa da Expiação?

A Festa das Trombetas ocorria no primeiro dia do sétimo mês do calendário hebraico. Nesse dia, as trombetas eram tocadas de modo especial (ouviam-se esses instrumentos em todos os primeiros dias de cada mês), pois anunciavam um novo ano que começava. As pessoas não trabalhavam: apenas descansavam e iam ao templo para rezar e levar suas oferendas a Deus. O povo iniciava então um período de dez dias de reflexão e penitência, que terminava no dia da Festa da Expiação. Esta , também chamada Dia do Grande Perdão, era a ocasião em que as pessoas pediam perdão a Deus por tudo o que haviam feito de errado durante aquele ano, esperando ser purificadas. Nesse dia o sacerdote entrava na parte mais interior e sagrada do tabernáculo, dentro do templo, e ali oferecia primeiro um sacrifício por si mesmo e depois outro pelo povo.

94. Como era a Festa dos Tabernáculos?

Esta festa acontecia no começo do outono. Chamava-se também Festa das Tendas. Comemorava-se o fim das colheitas das frutas, especialmente uvas e azeitonas. Era a mais alegre e movimentada das festas anuais. O povo levantava tendas no campo, onde se abrigavam e colocavam frutas e outras comidas. As tendas recordavam aquelas em que os israelitas tinham vivido durante os 40 anos de caminhada pelo deserto, rumo a Canaã. Daí o nome de Festa das Tendas. Estas eram feitas com quatro estacas fincadas no chão e três sobrepostas, sobre as quais eram colocados ramos de árvores e folhas de palmeira (teto da tenda). Agradecia-se então a Deus pelas frutas, especialmente pela vindima. A festa incluía também uma cerimônia de derramamento de água, durante a qual se faziam orações pedindo a Deus chuvas para a próxima colheita.

95. Como eram a Festa das Luzes e a Festa dos Purim?

A Festa das Luzes, também chamada Festa do Templo Purificado ou da Dedicação, comemorava o dia em que o templo de Deus havia sido libertado por Judas Macabeu das mãos dos invasores e aberto novamente ao povo, no ano 165 a.C., depois de ter sido profanado pelo rei da Síria, Antíoco Epífanes. Chamava-se Festa das Luzes, porque todas as noites luzes eram acesas nas sinagogas e nas casas. A Festa dos Purim era uma ocasião de grande alegria, em que o povo cantava, dançava e trocava muitos presentes. Celebrava o dia em que a rainha Ester e seu tio, Mardoqueu, salvaram o povo judeu da morte, que lhe fora decretada por Amã, ministro do rei persa Assuero, marido de Ester. A palavra “purim” significa “sorte”, pois Amã havia tirado à sorte para saber o dia em que deveria exterminar todos os judeus.

96. Que era o Sábado? E a Lua Nova?

O sábado era uma celebração característica de Israel. Nenhum outro povo a possuía. A cada sete dias da semana, um era reservado ao descanso e à oração, recordando que Deus havia criado o mundo em seis dias, descansando no sétimo. O sábado pois, pertencia a Deus: começava na sexta feira, depois do pôr do sol , e terminava no sábado, quando o sol se punha. Nesse dia era proibido o trabalho e qualquer outra atividade física. A lei prescrevia o que se podia e não podia fazer no sábado. Hoje muitas pessoas pensam que o sétimo dia da semana é o domingo, mas não é verdade. O domingo é o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição de Jesus. A Lua Nova indicava o começo de cada mês. Nesse dia as trombetas tocavam e ninguém trabalhava: orava-se e faziam-se sacrifícios especiais para recordar que Deus criara o mundo com ordem.

97. A Bíblia fala da Festa de Natal?

Não especificamente. Essa festa, celebrada hoje em dia por todos os cristãos, comemora o dia do nascimento de Jesus Cristo em Belém, na Judéia. No Novo Testamento, dois dos Evangelhos, o de Mateus e o de Lucas, falam do nascimento de Cristo e de pormenores que ocorreram nessa data. Mas qual seria exatamente o dia (e o ano) em que Jesus nasceu? No século V d.C., adotou-se no Ocidente o costume de contar os anos a partir do nascimento de Cristo, que então teria vindo ao mundo no ano 1. Mas parece que houve um erro de cálculo: Jesus teria realmente nascido entre os anos 4 e 6 a.C. Quanto ao dia, os Evangelhos nada dizem. A data de 25 de dezembro foi fixada pelo papa Júlio I, em Roma, no século IV, pois até então os cristãos comemoravam o Natal em diferentes datas: alguns em dezembro, outros em janeiro e outros em abril.

98. Quais eram as três ocasiões mais importantes na vida de uma família israelita bíblica?

Cada família tinha seus dias especiais para recordar e é claro que não podiam ser os mesmos para todos. Mas, de modo geral, em todas as casas, três acontecimentos eram sempre muito importantes: o nascimento de um filho, um casamento e um falecimento. O nascimento de uma criança era sempre sinal de benção de Deus. Mas ter um menino era bem mais importante do que ter uma menina, talvez porque, ao crescer, o menino poderia ajudar a família no trabalho da terra, enquanto as meninas apenas trabalhavam em casa. Oito dias após o nascimento, o menino era levado ao templo para receber um nome e ser circuncidado, o que significava que aquela criança seria para sempre um “filho de Deus”. Aos 13 anos, o menino tornava-se adulto, um membro da comunidade: comparecia então a uma cerimônia no templo que o tornava um “filho da lei”.

99. Como eram os casamentos?

O Livro do Gênesis fala do casamento como uma instituição perpétua, isto é, o homem e a mulher se casavam para toda a vida. Pouco a pouco, porém, isto foi se modificando. Já no tempo de Abraão, um homem podia ter outra mulher, geralmente a escrava de sua esposa, se esta não pudesse ter filhos. A lei de Moisés permitia o divórcio, mas o homem tinha de dar à mulher um documento de repúdio. E, na época dos juízes e dos reis, um homem podia ter tantas esposas quantas pudesse sustentar. O casamento era muito mais um assunto civil do que religioso. Fazia-se um contrato prévio, com duas testemunhas, pelo qual o casal já estava casado, mas ainda não convivia. A cerimônia, muito simples (após uma benção, retirava-se o véu do rosto da mulher, colocando-o no ombro do marido), só ocorria quando o noivo já tinha pronta a casa em que o casal residiria.

100. Como era encarada a morte nos tempos bíblicos?

No princípio, os israelitas não acreditavam numa vida eterna após a morte. As almas iam para o cheol, um lugar sombrio sob a terra. Mas no tempo de Daniel já se dizia que o destino final da alma de uma pessoa dependia de seu comportamento em vida: podia alcançar a eternidade ou a ignomínia perpétua. No tempo de Jesus, havia os que acreditavam e os que não criam na ressurreição. De qualquer modo, a morte entre os israelitas era sempre ocasião de dor e tristeza durante sete dias. Enterravam os seus mortos em grutas, naturais ou artificiais, fechadas por uma enorme pedra. Os mais pobres eram enterrados em valas comuns, abertas no solo, sobre as quais se colocavam grandes pedras pintadas de branco para chamar a atenção, pois qualquer contato com defuntos tornava a pessoa “impura”. Depois de algum tempo, retiravam-se os ossos, guardando-os em ossários.

Lista dos livros que compõem a Bíblia

Antigo Testamento (46 livros)

Os cinco livros do Pentateuco

  • Gênesis (Gn); Êxodo (Ex); Levítico (Lv); Números (Nm); Deuteronômio (Dt).

Os 16 livros históricos

  • Josué (Js); Juízes (Jz); Rute (Rt); 1º Samuel (1Sm); 2º Samuel (2Sm); 1º Reis (1Rs); 2º Reis (2Rs); 1º Crônicas (1Cr); 2º Crônicas (2Cr); Esdras (Es); Neemias (Ne); Tobias (Tb); Judite (Jt); Ester (Est); 1º Macabeus (1Mc); 2º Macabeus (2Mc).

Os sete livros sapienciais

  • Jó (Jó); Salmos (Sl); Provérbios (Pr); Eclesiates (Ecl); Cântico dos Cânticos (Ct); Sabedoria (Sb); Eclesiástico (Eclo).

Os 18 livros proféticos

  • Isaías (Is); Jeremias (Jr); Lamentações (Lm); Baruc (Br); Ezequiel (Ez); Daniel (Dn); Oséias (Os); Joel (Jl); Amós (Am); Abdias (Ab); Jonas (Jn); Miquéias (Mq); Naum (Na); Habacuc (Hab); Sofonias (Sf); Ageu (Ag); Zacarias (Zc); Malaquias (Ml).

Novo Testamento (27 livros)

Os 4 livros sobre a vida de Jesus

  • Evangelho segundo São Mateus (Mt); Evangelho segundo São Marcos (Mc); Evangelho segundo São Lucas (Lc); Evangelho segundo São João (Jô).

o livro histórico

  • Atos dos Apóstolos (At).

as 21 cartas

  • Epístola aos Romanos (Rm); 1ª Epístola aos Coríntios (1Cor); 2ª Epístola aos Coríntios (2Cor); Epístola aos Gálatas (Gl); Epístola aos Efésios (Ef); Epístola aos Filipenses (Fi); Epístola aos Colossenses (Cl); 1ª Epístola aos Tessalonicenses (1Ts); 2ª Epístola aos Tessalonicenses (2Ts); 1ª Epístola a Timóteo (1Tm); 2ª Epístola a Timóteo (2Tm); Epístola a Tito (Tt); Epístola a Filêmon (Fm); Epístola aos Hebreus (Hb); Epístola de São Tiago (Tg); 1ª Epístola de São Pedro (1Pd); 2ª Epístola de São Pedro (2Pd); 1ª Epístola de São João (1Jô); 2ª Epístola de São João (2Jô); 3ª Epístola de São João (3Jô); Epístola de São Judas (Jd).

o livro profético

  • Apocalise (Ap).